O Brasil está sofrendo um impacto que tem atingido diversos segmentos da indústria no mundo inteiro, formado pela escassez de insumos para embalagens de produtos.
Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que em outubro de 2020 a falta de insumos atingiu os maiores níveis desde 2001 numa série de indústrias, o que impactou também o setor cervejeiro.
Publicação recente do Estadão revela que a ruptura de cerveja, taxa de ausência do produto no mercado, chegou a 18,92% contra 12% do mesmo período no ano passado. Isto significa que cresceu a probabilidade de que consumidores não encontrem uma determinada cerveja, ou pelo menos, não a encontre em todas os formatos de embalagens que costumam estar disponíveis nos pontos de venda.
As razões que estão levando a este cenário são diversas e se combinam para agravamento da situação, criando um momento desafiador para o mercado de cerveja e também de outros segmentos.
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Porém, a variável predominante que acarreta a situação atual é a mudança de hábitos de consumo ocasionados pela pandemia. Este fenômeno no mercado de cerveja levou a busca por produtos em maior proporção em supermercados e ocasionou também um salto gigantesco no consumo online da bebida.
O fato é que a busca num patamar muito acima do normal por embalagens para atender estes canais de venda atingiu também outros segmentos como por exemplo alimentos, vestuário e bebidas diversas que disputam conjuntamente a demanda por matérias-primas como vidro, alumínio, plástico e papelão.
Com isso, os fornecedores de embalagens possuem uma capacidade de oferta inferior a configuração da demanda atual, que é agravada por uma maior procura no período de final de ano devido as festividades como natal e ano novo e as promoções da black friday.
A escassez de embalagens torna esses insumos mais caros, algo que é ainda agravado pela subida do dólar em 2020 que contribui na formação de preço de diversas matérias primas para a produção destes insumos para o mercado de bens de consumo.
Os fabricantes de insumos afirmam que o desabastecimento de embalagens não é estrutural e reflete um momento pontual do mercado devido as mudanças que estão ocorrendo em virtude da pandemia.
A Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO) comunicou ao Estadão que a venda de produtos para embalagem vem registrando recordes mensais desde julho e pontuou que alta demanda ocorre em razão da retomada da indústria além do crescimento do e-commerce que levou a busca por papelão acima dos normalmente observados no país.
Já a Abividro na mesma publicação comunicou que a capacidade de sua oferta é limitada pela dimensão de seus fornos e que a produção de vidro é ocorre 24 horas e não parou mesmo durante o período de baixa do mercado, onde quebraram o material e realimentaram as unidades de produção com eles.
Toda esta complexidade de mudanças da cadeia de produção atingiu o mercado de cerveja de diferentes formas.
Os grande produtores confirmam que há um impacto mas o sentem pontualmente.
“Um contexto atípico motivado pela pandemia, tanto na cadeia de insumos como na retomada acelerada dos últimos meses” reportou o Sindcerv que representa Ambev e Heineken e o Grupo Petrópolis comentou que os seus fornecedores cumpriram o estabelecido em contrato.
Por outro lado, os pequenos produtores sofrem os impactos do desabastecimento de forma mais contundente por muitas vezes não possuírem contratos de suprimento e também por terem demanda por embalagens em menor quantidade e fragmentada.
Essa dinâmica foi abordada anteriormente em publicação da Catalisi onde pequenas cervejarias mencionaram o momento desafiador em relação a dificuldade de aquisição de insumos e as saídas que as mesmas têm buscado para passar por esta situação.
Uma das soluções encontradas foi buscar migrar produtos para embalagens que apresentam menor restrição de acesso, estas podem variar conforme os contatos previamente estabelecidos e a capacidade e configuração de cada unidade de produção.
Outro fator reforçado é a atuação de compras em formato coletivo, onde diversas marcas se unem para comprar maiores quantidades e se abastecerem de forma mais racionalizada.
A expectativa é que a pressão sobre o fornecimento de embalagens arrefeça nos próximos meses com a passagem do pico de consumo e também pela gradual adaptação dos fornecedores em relação a sua capacidade de oferta num mercado onde embalagens reinam cada vez mais.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.