Grandes cervejarias dão início a corrida pelo lúpulo brasileiro

Os três grandes grupos cervejeiros do mercado brasileiro tem desenvolvido seus projetos se posicionando no nascente mercado de lúpulo nacional

As cenas recentes que tem sido promovidas pelos três grandes cervejarias presentes no Brasil – Ambev, Grupo Petrópolis e Heineken – se assemelham a fase de aquecimento para uma corrida que pode começar em relação a um possível mercado de lúpulo nacional.

Tido como impensável há anos atrás e ganhando suas primeiras iniciativas comerciais há pouquíssimo tempo, a produção de lúpulo no Brasil deve levar vários anos para atingir um nível de viabilidade comercial compatível com o volume necessário para produção de cerveja, mas as grandes cervejarias já demonstraram seu apetite para explorar esta oportunidade.

A Ambev, maior cervejaria do Brasil com cerca de 60% do market share da bebida no país revelou este ano seu projeto para produção de lúpulo em Santa Catarina onde já possui um viveiro e está em fase de construção de uma primeira unidade de beneficiamento da planta o que já revela um investimento em infraestrutura que não é comum para iniciativas meramente pontuais.

Nesta primeira fase sua parceria com a Lohn Bier tem permitido a produção de pequenos lotes de cerveja com o lúpulo catarinense, o que tem promovido as fases de evolução deste projeto da empresa tanto junto a entes da cadeia da cerveja quanto junto ao público consumidor final.


Leia mais:

Trajetória comercial do lúpulo brasileiro se inicia com empreendedoras do Rio de Janeiro


Espirito Santo ganha projeto para produção comercial de lúpulo


O Grupo Petrópolis, terceiro maior grupo cervejeiro do país também anunciou no último mês seus avanços referentes a investimentos de produção própria de lúpulo no Brasil.

A estratégia da Petrópolis também combinou a menção sobre a evolução de seu projeto combinado a produção de um cerveja de edição limitada para venda em seus canais de distribuição que foi batizada de Braza Hops.

Uma diferença do projeto do Grupo Petrópolis foi a comunicação direta de sua pretensão em que seu investimento em lúpulo num longo prazo passa a conferir independência de uma grande parcela de seu lúpulo importado.

Já a Heineken, vice-líder em vendas de cerveja no Brasil tem se movimentado menos recentemente em relação ao assunto, mas nos últimos anos já promoveu a utilização do lúpulo da Serra da Mantiqueira, que deu origem inclusive a primeira colaborativa de sua marca Baden Baden com outras cervejarias do país.

Futuro de lúpulo brasileiro precisará de anos de investimento

As primeiros sinais do interesse das grandes cervejarias pelo lúpulo brasileiro também atentam para um possível maior poder de negociação destas empresas no futuro sobre esta cadeia agrícola no país, o que revela a necessidade de que microcervejarias independentes busquem se posicionar para angariarem participação dentro do contexto potencial deste mercado.

O cultivo de lúpulo é complexo e até hoje restrito a poucos locais no mundo, onde o Brasil nunca foi considerado como uma região potencial.

O crescimento do número de microcervejarias pelo país trouxe nos últimos anos o tema da possibilidade da produção de lúpulo no Brasil para o debate e o desenvolvimento de tecnologias para adaptação da planta as condições de diversas regiões brasileiras começaram a aparecer e mostrar um grau evolutivo.

Mesmo países com pequena produção num nível mundial, como a Nova Zelândia por exemplo, possui várias décadas de cultura de produção lúpulo alavancadas por investimentos em pesquisa fomentados por entidades governamentais que são fundamentais para impulsionar desenvolvimentos deste tipo.

Por este lado, o anúncio recente do Ministério da Agricultura sobre a início de um projeto de incentivo para a produção de lúpulo no país é um bom começo que necessitará de uma visão de longo prazo para que as possibilidades de se produzir lúpulo comercialmente no Brasil sejam alcançadas um dia.

Receba semanalmente o melhor conteúdo sobre o mercado de cerveja

Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.